Este sítio está cheio de ti. Para onde quer que olhe vejo o teu sorriso, sinto as tuas mãos, oiço um sussurro teu no meu ouvido. Para onde quer que olhe vejo pedaços de ti.
É como se nunca tivesses partido. Aqui, tudo continua como antes. Tenho os livros que me deste na estante mais perto da minha cama, ainda uso a agenda que me ofereceste, escrevo nos moleskine que me compraste, e o puzzle que me ofereceste no meu último aniversário continua espalhado na mesa do meu escritório.
Nada mudou aqui e eu aprisiono-me, inconscientemente, neste falso conforto, fingindo que tudo continua igual. Agarro-me a estes pedaços teus, completo-os com memórias nossas e, por um momento de ilusão, acredito que, na verdade, nada mudou.
Mas mudou. Tudo mudou.
[É altura de eu largar esta apatia
e acompanhar a mudança]
Hoje é o último dia que me sento à frente daquela imagem em pedaços e tento encaixar mais uma peça. Aquela imagem não vai voltar a ser inteira.
Um todo não é apenas a soma das partes e os pedaços que ainda guardo de ti, não te vão trazer de volta.
"I hate the way I need you when I don’t know where you are."
Sabes porque não te olho nos olhos?
Porque o teu olhar me devora.
Porque a minha alma se sente desprotegida, nua.
Porque sinto que conseguirás ler o meu pensamento se
fixar esse teu olhar que ainda amo.
Não te olho nos olhos porque receio que vejas que ainda choro por ti a cada dia, enquanto tu continuas com a tua vida como se nada se tivesse passado.
Sabes porque não te olho nos olhos?
Porque tenho medo. Tenho medo que esta vontade de te beijar se apodere de mim e não posso deixar que isso aconteça. Posso ter perdido tudo mas, desta vez, a minha dignidade e o meu orgulho vão ficar comigo. Posso não te olhar nos olhos mas a minha cabeça, desta vez, ficará erguida.
Sabes porque não te olho nos olhos?
Porque, cada vez que ganho coragem para te encarar durante um segundo, a vejo a ela. Vejo-te com ela e nessas alturas desabo por dentro, e não posso deixar. Não desta vez.
Sabes porque não te olho nos olhos?
Porque ainda estou aqui e tu já foste para longe.
[Fui clara o suficiente ou
preciso de te olhar nos olhos para que percebas?]
Hoje estive a pensar em ti, como já tem sido hábito, aliás, e, como sempre, invadiu-me aquela dor no peito que não sei bem descrever. É como se algo faltasse e, ao mesmo tempo, esse vazio apertasse no peito, incapacitando o coração de bater, os pulmões de inspirar. Tudo no meu corpo começou a latejar, como acontece quando penso que te perdi mas, desta vez, não chorei. Pela primeira vez, não chorei com o pensamento. Respirei fundo e racionalizei, em vez de deixar o coração tomar conta da situação.
Se pensas que me deixei invadir pelas memórias de tudo o que estava mal, enganas-te. Pensei em todas aquelas coisas tuas de que sinto falta.
Não relembrei os beijos ou os abraços, os mimos ou as carícias, não. Também sinto falta de tudo isso, é verdade. Das palavras doces e dos silêncios carregados de paixão. Sinto falta disso, sim. Mas não é a ausência disso que me está a matar por dentro.
O que me consome é não saber como estás. Se estás feliz ou triste, animado ou desmoralizado. É não saber se o teu espírito está atormentado por algum problema ou se, pelo contrário, a vida te sorri mais do que nunca.
Sinto a falta de poder partilhar a tua vida. De sorrir nas tuas vitórias, de te amparar nas quedas, de estar lá, no matter what.
É esse o vazio que me consome, e não há anda que possa fazer para o eliminar, só me resta aprender a viver com isso[
]a consequência dos meus erros